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Matéria da Revista CARAS
Não é verdade que a esquizofrenia torna as pessoas mais violentas
A mídia tem dado destaque ao fato de o ator Bruno Gagliasso interpretar um esquizofrênico em novela na televisão. Ótimo, pois chama a atenção para a doença e a torna mais conhecida. Os últimos capítulos, porém, têm mostrado um esquizofrênico violento. Pode até haver um caso ou outro, mas portadores da doença em geral são menos violentos do que a maioria da população.
por Rodrigo Affonseca Bressan*
A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica que deve ser diagnosticada e tratada rapidamente. Ela se caracteriza por alterações no pensamento, no afeto e na vontade. Os principais sintomas são: delírios, alucinações e retraimento social.
Delírios são idéias distorcidas, irreais, que o esquizofrênico percebe como reais. Dividemse em persecutórios, de grandeza e místicoreligiosos. De repente a pessoa cisma, por exemplo, que traficantes a estão perseguindo. Tudo que ocorre a partir de então gira em torno desta idéia delirante.
Já alucinações são percepções sem objeto, como ouvir vozes, ver luzes ou vultos que na realidade nunca existiram. Em geral as alucinações se referem ao conteúdo dos delírios; por exemplo, a pessoa ouve a voz dos "traficantes que a perseguem". Outro sintoma frequente é a autorreferência, ou seja, a pessoa tem a sensação de que tudo que ocorre à sua volta está relacionado com ela. Entra no ônibus, por exemplo, e se incomoda porque tem certeza de que todos a estão olhando, pois trabalham para os "traficantes".
Sintomas importantes são ainda isolamento e diminuição da interação afetiva. Esquizofrênicos têm mais dificuldade para interagir socialmente e acabam se isolando.
A doença cursa com períodos em que os sintomas são mais intensos (episódios psicóticos agudos), mas quando tratados perdem intensidade (fase de estabilidade) e a pessoa leva uma vida praticamente normal.
A prevalência da moléstia ao longo da vida, em todo o planeta, é de 05,% a 1% da população; no Brasil, gira em torno 0,7% da população. A esquizofrenia ocorre em homens e mulheres. Manifesta-se mais entre os 17 e os 27 anos, isto é, em adolescentes e adultos jovens. Por volta de 13% dos que recebem o diagnóstico de esquizofrenia apresentam-na na forma aguda, são tratados e nunca mais voltam a apresentá-la.
A doença vem sendo bastante estudada. Muitos dos mecanismos cerebrais envolvidos nela já foram descobertos. O estresse e o uso de drogas ilícitas, por exemplo, têm papel importante em seu desencadeamento. Quando a pessoa vive situações de estresse ou usa drogas, algumas células cerebrais liberam o neurotransmissor dopamina em demasia. Este excesso está associado à ocorrência de delírios e de alucinações. Mas só pessoas que apresentam predisposição genética desenvolvem esquizofrenia.
Quanto mais tempo sem tratamento, mais grave se torna a doença, fazendo com que o portador se isole, perca o interesse pela escola e pelo trabalho e tenha o risco de suicídio aumentado. Para evitar estes problemas, é preciso um tratamento efetivo com medicamentos, que diminuem a ação da dopamina, e terapias.
Quem apresenta delírios e/ou alucinações deve ser levado a um psiquiatra para que faça o diagnóstico e estabeleça o tratamento. Existem até serviços específicos de esquizofrenia nas Faculdades Federais e Estaduais existentes nas capitais e em cidades grandes Brasil afora. Quanto mais cedo a doença é diagnosticada e tratada, melhor a evolução do tratamento. A rapidez é importante ainda pois, como disse, 13% dos doentes tratados logo no início se curam. Nos demais, controlam-se os sintomas para que levem uma vida produtiva.
* Rodrigo Affonseca Bressan, médico psiquiatra na capital paulista, é PhD pela Universidade de Londres, professor adjunto do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do Programa de Esquizofrenia (Proesq) da mesma instituição de ensino.
E-mail: r.bressan@psiquiatria.epm.br
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