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Colaboradores felizes têm melhor desempenho
Patrícia Bispo
Jornalista responsável pelo conteúdo da comunidade virtual RH.com.br.
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"Um som se ouve à porta: Toc, toc!!!
Quem é?, pergunta a empresa.
Sou eu, posso entrar?, responde a felicidade".
Se esse diálogo pudesse se tornar realidade, muitos profissionais de RH e gestores ficariam aliviados, pois bastaria abrir uma janela e a felicidade invadiria as salas das organizações e os índices de satisfação interna sempre estariam acima das expectativas. Por esse motivo, a área de Recursos Humanos sempre recorre a recursos para avaliar o clima entre os colaboradores, pois se eles estão insatisfeitos com algo, isso refletirá diretamente no desempenho das suas atividades.
"O trabalhador brasileiro tem uma predisposição à felicidade, pois nossa cultura é extremamente extrovertida e voltada para a festividade e a celebração. De um modo geral, o estado de espírito do brasileiro é muito receptivo e favorável para iniciativas voltadas ao bem-estar e à felicidade", afirma o consultor organizacional Francisco Gomes de Matos, autor do livro "Empresa Feliz". A obra possui um diferencial, pois apresenta aos leitores o Fator QF - Quociente de Felicidade - uma metodologia que defende a introdução da felicidade como motivação essencial do ser humano no meio organizacional. Na entrevista concedida ao RH.com.br, Francisco Gomes de Matos que já escreveu 32 livros de gestão, dentre os quais "Empresa que Pensa", vencedor do Prêmio Jabuti, revela as razões que o estimularam a realizar esse trabalho e, inclusive, como a área de Recursos Humanos está estreitamente ligada à felicidade no meio corporativo.
"A definição de uma bem-estruturada política de Recursos Humanos e a concretização efetiva de um ambiente de valorização humana, onde todos são líderes de líderes, será a base fundamental para a construção de um ambiente de felicidade, satisfação profissional, sucesso empresarial e êxito coletivo", afirma ao ser questionado sobre quais fatores interferem na felicidade organizacional. Como felicidade é e sempre será bem-vinda em todas as instâncias da vida humana, essa entrevista pode muito bem levar a uma reflexão sobre o assunto e quem sabe, repensar determinadas ações implantadas na empresa em que você atua. Uma boa e feliz leitura!
RH.COM.BR - Quando o Sr. criou o Fator QF - Quociente de Felicidade e o que o levou a elaborar esse recurso?
Francisco Gomes de Matos - Ao longo de minha trajetória profissional, seja como dirigente ou consultor empresarial, constatei o quanto as empresas perdem em potencial de desenvolvimento e produtividade devido à desvalorização humana que geram desânimo, mágoas, ressentimentos e falta de entusiasmo pelo trabalho. Percebi, como efeito cascata, a significativa falta de felicidade nas organizações, tanto nos dirigentes como nas lideranças médias e no corpo funcional como um todo. Um verdadeiro círculo vicioso que prejudica a todos sem distinção. A infelicidade gera perda de lucro para a empresa e de saúde para o ser humano. Hoje, a felicidade passou a fazer parte da retórica empresarial, mas carece ainda de fundamentação e realismo, pois pouca se expressa em termos de uma cultura corporativa revista e enriquecida por valores internalizados nas lideranças.
RH - Essa constatação o levou a adotar quais iniciativas?
Francisco Gomes de Matos - Diante de dados concretos de minhas pesquisas de campo, no início da década de 90 escrevi o livro "Empresa Feliz", cuja fundamentação básica foi apoiada nas seguintes premissas: a felicidade na empresa é viável e desejável e só seres humanos felizes são verdadeiramente produtivos. Nesse sentido, apresentei um Modelo de Gestão, com ênfase em uma estratégia de empresa feliz. Essa empresa feliz foi centrada em filosofia, política e estratégias de ação, embasadas na valorização humana, na renovação contínua e na lucratividade sustentada. A organização é, em essência, um dos centros mais significativos de influência e de possibilidades de realização humana, tornando-se, na sociedade da informação e do conhecimento, uma comunidade vivencial de aprendizagem, onde todos ensinam e todos aprendem. Isso é o que chamo de renovação, ou melhor, pessoas em renovação, numa organização em renovação contínua.
RH - E o que o seu livro focou?
Francisco Gomes de Matos - O livro "Empresa Feliz" responde, por exemplo, indagações do tipo:
- Como criar uma cultura organizacional que enfatiza a felicidade?
- Quais as causas de infelicidade que provocam o insucesso das organizações, como preveni-las e como promover as renovações necessárias?
- Quais as estratégias metodológicas de estímulo à participação nas decisões e na melhoria do trabalho?
- Como realizar uma estratégia de empresa profissionalizada, descentralizada, moderna e humana?
- O que é ser uma empresa feliz, ser lucrativa e em condições de se perpetuar?
Com base nos conceitos da obra Empresa Feliz, concebi o Modelo Metodológico do Ciclo de Felicidade no Trabalho e, com ele, a convicção de que há um Quociente de Felicidade - QF, responsável pela ação inteligente e pela competência, da qual resultam a renovação contínua.
RH - Quais os principais objetivos do Fator QF?
Francisco Gomes de Matos - O Fator QF ganhou expressão no momento em que se começou a focar o Quociente Emocional - QE - como sendo uma solução miraculosa, capaz de corrigir desmotivações e infelicidades. As frustrações certamente ocorreriam, pois empresas, empresários e profissionais de RH sempre se guiaram pelo Quociente de Inteligência - QI, embora fossem abundantes os treinamentos comportamentais. Todavia, o pensamento e as ações sempre estiveram focadas na razão ao serem formuladas a partir de políticas e estratégias. Evidente que as emoções existem necessariamente, pois seres humanos não são pedras. Mas, a ênfase prioritária sempre foi a objetividade racional. Para superar o QI, histórico, do QE, idealista, era necessário preencher o vazio cultural que os distanciavam. Daí surgiu a proposta de intervenção na cultura corporativa, renovando-a com a introdução da felicidade, como motivação essencial do ser humano. Nessa linha surgiu a concepção do QF - Quociente de Felicidade, posteriormente editado em livro, em 1997, com o título "Fator QF - Quociente de Felicidade", onde foi apresentada a experiência com o Ciclo de Felicidade no Trabalho. O QF é o fator de cultura, inteligência e emoção capaz de construir uma empresa feliz, produtiva e duradoura. Nessa linha, o propósito essencial do livro publicado foi o de apresentar, de forma clara, simples e objetiva, como tornar a felicidade um ideal viável na empresa. De maneira bem prática, a metodologia do Ciclo de Felicidade no Trabalho indica como desenvolver a qualidade de vida nas organizações, por meio da cultura da participação e de um clima de abertura motivadora, onde produzir significa realizar e se realizar. É guiado por esse princípio que realizo minhas consultorias nas linhas da cultura corporativa, liderança integrada e estratégia negociada.
RH - Em que situações o Fator QF pode ser utilizado pelas organizações?
Francisco Gomes de Matos - Em todas as situações que envolvam o desenvolvimento de competências e de habilidades para o trabalho, a melhoria da qualidade de vida e o fortalecimento dos valores humanos. Acredito na força de transformação pela dinâmica da educação construtivista, onde o que vale é a construção de uma inteligência coletiva, onde todos se responsabilizam pelo processo de ensino e de aprendizagem. Há um "estado de felicidade" ao se trabalhar em grupo - indispensável à integração e à produtividade e que torna as pessoas inteligentes, criativas, realizadoras e receptivas a aprender e a ensinar. A proposta desse trabalho é mostrar que de alguma maneira todos exercem algum tipo de liderança. Logo, na empresa todos são líderes de líderes. Daí nasce a o papel estratégico do líder educador, conceito que desenvolvi na década de 80, no livro Gerência Participativa.
RH - Como o Sr. apresentou essa metodologia em seu livro?
Francisco Gomes de Matos - O Ciclo de Felicidade no Trabalho é um espaço que leva à reflexão e à aplicação, induzindo as pessoas a expressar ideias e sentimentos, aprofundar e esclarecer causas de problemas e propor alternativas de soluções, sem as limitações burocráticas que habitualmente embotam e frustram. No livro "Empresa Feliz" são apresentadas 13 linhas de ação e 38 atividades, testadas com êxito em várias organizações, para exercitar o pensamento estratégico, harmonizar pessoas e desenvolver equipes. Os ciclos consistem na sensibilização de até 20 participantes - mesclados, sem critério hierárquico - para examinarem as situações de trabalho, estudarem processos de melhoria da qualidade de vida no ambiente produtivo e encaminharem sugestões para o incremento da produtividade.
RH - Quais as etapas do Fator QF?
Francisco Gomes de Matos - Sua implementação é flexível, para poder atender às carências e às possibilidades locais. Basicamente, os ciclos têm a seguinte sequência:
1- Dinâmica de grupo para sensibilização dos participantes. Em geral, promove-se previamente a "Leitura Interativa" de textos para a absorção de uma linguagem comum.
2 - Transmissão da metodologia "Líder de Líderes", para habilitar os participantes a conduzir o trabalho em equipe.
3 - Diagnóstico das situações problemáticas existentes em cada unidade produtiva.
4 - Esboço negociado de uma estratégia para fixação de linhas prioritárias de ação.
5 - Escolha do coordenador, por rodízio, que conduzirá o ciclo e supervisionará as práticas sugeridas pela metodologia.
6 - O acompanhamento do processo realiza-se através de "Reuniões Criativas" e Redação de Memória. A função da memória é dar fundamentação e subsídios ao diagnóstico permanente e às propostas de soluções.
7 - Com o desenvolvimento das equipes, os participantes são motivados e habilitados a um maior comprometimento no processo de multiplicação da experiência para outros grupos. Significa o exercício da função educadora, indispensável principalmente às gerências.
Para dar apoio aos ciclos é fundamental preparar assessorias internas - analistas de treinamento, assistentes de recursos humanos - que possam assegurar recursos didáticos e técnico-instrumentais para tornar eficaz o trabalho dos coordenadores e eficiente o processo.
RH - Uma vez, utilizado quais os benefícios que o Fator QF traz ao meio organizacional e especificamente à Gestão de Pessoas?
Francisco Gomes de Matos - A implantação efetiva do ciclo vai evidenciar uma realidade pouco constatada: as pessoas querem participar. Com liderança, efetiva-se o prodígio de pessoas comuns realizando coisas incomuns. A inteligência coletiva está intimamente correlacionada à cultura da felicidade.
RH - Qualquer organização pode utilizar o Fator QF?
Francisco Gomes de Matos - Seja uma micro, pequena, média ou grande empresa, todas as organizações humanas são capazes de dinamizar o Fator QF, pois ele é essencialmente muito simples e parte do princípio da valorização humana, através do relacionamento inter-pessoal e do compartilhamento do conhecimento, sentimentos e opiniões.
RH - Por que o Sr. mostra-se tão preocupado em avaliar o Quociente de Felicidade nas empresas?
Francisco Gomes de Matos - Porque é triste perceber a desumanização dos ambientes de trabalho e a falta de sensibilidade das empresas para a concretização efetiva da valorização humana, além dos discursos e peças de marketing institucional. É bom que todos lembrem que a felicidade é um diferencial que garantirá à empresa bem-sucedida a sua renovação e perpetuidade na liderança.
RH - Que indicadores determinam a existência da felicidade no ambiente de trabalho?
Francisco Gomes de Matos - As atitudes e os comportamentos do corpo funcional de uma empresa são os principais indicadores da felicidade no trabalho. Podemos mensurar esses fatores através de mecanismos científicos, como pesquisas quantitativas e qualitativas ou, também, de uma maneira empírica e direta, como passeios pelas instalações da empresa, onde se pode perceber o semblante e as manifestações de espontaneidade nos relacionamentos. Felicidade gera confiança, que, por sua vez, produz integração e co-responsabilização por objetivos comuns.
RH - Em sua opinião, que caracteriza um trabalhador feliz?
Francisco Gomes de Matos - O trabalhador feliz é aquele que se sente e se percebe como elemento co-participante do projeto empresarial. É o funcionário empreendedor, que supera a dimensão da nomenclatura de "funcionário" e passa a ser um verdadeiro sócio do negócio, com participação nos lucros e, até mesmo, um possível vínculo acionário. Essa é uma realidade muito bem-sucedida por empresas da Comunidade Européia.
RH - De que forma a área de RH pode colaborar para um ambiente corporativo feliz?
Francisco Gomes de Matos - A área de RH exerce a função estratégica de sensibilizar as lideranças da empresa para a importância da cultura da participação e da valorização das pessoas no ambiente de trabalho. Cabe ao profissional de RH assumir o papel de formador de opinião e de agente multiplicador de atitudes de respeito e consideração aos valores humanos, tendo como referência motriz a convivência das diversidades e a cooperação pelo maior bem-comum da humanidade: o direito à felicidade.
Publicado em 17/08/2009 no www.RH.com.br.
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