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Jogando Xadrez
*por Tom Coelho
“O sucesso na vida não depende de receber boas cartas,
mas de jogar bem com cartas ruins.”
(Warren G. Lester)
Eu contava cerca de sete anos de idade, quando fui apresentado ao jogo de xadrez por um primo mais velho. Numa infância pobre, utilizávamos um tabuleiro de jogo de damas e adaptávamos as peças a partir de componentes de outro jogo de tabuleiro, War. Assim, os dados viravam torres; os aviões, cavalos; os exércitos, peões.
Já adulto, coloquei-me a refletir sobre os benefícios daquela experiência lúdica. Esporte, para quem enxerga a dedicação e o desempenho inerentes à prática; jogo, para quem atribui o resultado da partida à sorte ou ao azar; arte, diante da criatividade e estilo empregados. O fato é que o xadrez é certamente responsável por aspectos de minha personalidade e conduta profissional.
O jogo tem um objetivo muito bem definido: o “xeque-mate”. Isso nos remete à questão de se estabelecer metas – e buscar cumpri-las. Para tanto, são necessários planejamento e estratégias definidas. E, para traçá-las, criatividade e imaginação.
Uma partida exige concentração, o que nos proporciona desenvolvimento do autocontrole. E sua duração tem um tempo-limite determinado. Assim, hierarquizar tarefas e gerenciar o tempo mostram-se imprescindíveis.
Mas o melhor do xadrez está no exercício de pensar os lances seguintes. Os seus, e os do adversário. Grandes enxadristas conseguem vislumbrar, a cada nova rodada, toda uma partida. Isso demanda um raciocínio lógico e espacial abrangentes. É o estímulo para o desenvolvimento da intuição e da capacidade de antecipação, além do hábito de visualizar o futuro. E o esforço por elevar a performance a cada lance lembra-nos a idéia do aperfeiçoamento contínuo, ou kaizen.
Não existe o jogo de duplas. Sob esta ótica, o xadrez é um exemplo perfeito da solidão do poder. A autonomia para movimentar uma ou outra peça é exclusividade do jogador. A decisão é sua. E o resultado, vitória ou derrota, é conseqüência direta das opções feitas. Esta é a hora de se administrar as emoções. Curtir o entusiasmo decorrente do sucesso, sentindo-se realizado; o prazer pela conquista, o sabor da superação. Ou tolerar o fracasso, aprendendo pacientemente com o mesmo, adotando uma postura resiliente.
Por fim, até mesmo ética se aprende através do xadrez. Do respeito ao adversário, cumprimentando-o no início e término da partida, mantendo-se em silêncio enquanto aguarda sua jogada, sem jamais trapacear mediante alteração das posições das peças num momento de distração do oponente, até o cumprimento da regra “peça-tocada é peça-jogada”, uma simbologia perfeita para denotar que podemos muitas vezes utilizar Ctrl-C + Ctrl-V, em nossas atitudes, mas o Ctrl-Z não é admitido...
O Profissional Empreendedor deve aprender a ser um enxadrista. Porque nossa vida é um grande jogo de xadrez. Estamos todos no mesmo tabuleiro e recebemos as mesmas peças. É certo que alguns são ligeiramente favorecidos pelo destino, ficando com peças brancas e iniciando o jogo. Mas, não raro, falta-lhes sabedoria para lidar com esta vantagem comparativa.
Estabelecer metas, planejar, traçar estratégias, administrar o tempo, tomar decisões, ser criativo e imaginativo, compor cenários, exigir qualidade, controlar emoções, respeitar ao próximo. Estas não são apenas regras para se vencer um jogo de xadrez. Não são apenas regras para se conquistar o jogo do mundo corporativo. São regras para se alcançar com êxito a própria felicidade no jogo da vida.
Tom Coelho é professor universitário, palestrante e escritor com artigos publicados por mais de 400 veículos da mídia em 14 países. É autor de “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional”, pela Editora Saraiva, e coautor de outros quatro livros.
Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br.
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